sexta-feira, 22 de maio de 2009

αиנσѕ є ∂ємôиισѕ


Para quem não leu o livro. É assim que este filme pode ser classificado, pois aqueles que o leram com certeza sentiram falta de toda a delicadeza dos personagens, emoções e até mesmo da tensão sexual entre Robert e Vittoria que as páginas escritas por Dan Brown nos proporcionaram. Contudo, como o filme é uma adaptação, ele não tem a mínima obrigação de seguir à risca o livro, portanto, vou tentar - caso eu não consiga, não se surpreenda - escrever a resenha do ponto de vista de alguém que não leu o livro, deixando as comparações somente para o final.
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ANJOS E DEMÔNIOS
Diretor: Ron Howard
Produtores: Columbia Pic./Imagine Ent./Sony Pic.
Distribuidora: Sony Pictures
Ano: 2009
Gênero: Drama
Quando Langdon descobre evidências do ressurgimento de uma irmandade secreta milenar conhecida como Illuminati, a mais poderosa organização secreta da história, ele enfrenta ainda uma ameaça fatal à existência do inimigo mais desprezado pela organização secreta: a Igreja Católica. Unindo forças com Vittoria Vetra, uma bela e misteriosa cientista italiana, Langdon embarcando numa caçada sem trégua e repleta de ação através de criptas fechadas, catacumbas perigosas, catedrais vazias e indo até ao coração do mais secreto túmulo do planeta, Langdon e Vetra percorrerão uma trilha de 400 anos de existência e símbolos milenares.
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COMENTÁRIOS
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Ron Howard volta em Anjos e Demônios para dirigir uma adaptação do sempre polêmico Dan Brown. Neste filme, percebe-se que ele está mais bem capacitado a conduzir a história do jeito que ela merece. Em comparação ao O Código da Vinci, a câmera está mais ágil, flexível e capta melhor os belíssimos interiores da Praça e Basílica de São Pedro e da Capela Sistina, além das paisagens abertas e cenas aéreas. Entretanto, por ser muito clara e focada, a fotografia não dá o tom de ameaça iminente que se faz presente em cada fala dos personagens.
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Os personagens são apresentados bruscamente para o público, o que faz com que nós não nos importemos muito com a maioria deles. Alguns exemplos são Robert, Vittoria e Olivetti que tiveram toda a sutileza, independência e rigidez, respectivamente, excluídos de seus personagens. Tudo bem que talvez não houvesse tempo para nos detalhar sobre como cada um deles é em seu íntimo, mas que os personagens ficaram vazios nesse filme, ah, ficaram... Duas exceções ocorrem, porém: o camerlengo - como eu amo essa palavra, sapoksapoksa. - Patrick (que no livro se chama Carlo e teve a infelicidade de ter seu nome trocado) e o capitão Rocher, ambos perfeitamente encaixados em seus personagens.
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Apesar de parecer que Hans Zimmer simplesmente adaptou a trilha principal de Código para Anjos e Demônios, ela tem um je ne se qua mais agressivo, explosivo e desesperador. E do segundo ato em diante podemos escutar toda a maestria de Hans, principalmente na cena em que - por algum motivo que eu não vou falar para não estragar a surpresa de quem não leu o livro - todos os personagens olham para o céu e vêem um show magnífico de luz e cores. Essa cena sozinha vale por todo o filme e, agora, uma semana depois de ter visto o longa, ainda me arrepio de lembrar da perfeição do ato.
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O filme tinha tudo para ser o melhor do ano (sim, inclusive melhor que Harry Potter 6 no aspecto história/roteiro.), mas, por algum motivo, temos a impressão de que algo está faltando. Algumas cenas desnecessárias e arrastadas ao extremo foram colocadas no filme aparentemente por vontade ou conveniência do roteirista, enquanto que outras cenas realmente importantes e apreensivas foram reduzidas a meros diálogos rápidos e cortes bruscos. Ainda assim, a trilha de Hans consegue disfarçar esse vazio muito bem.
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Outro fato que deixa o filme incompleto é a falta de informação para quem não leu o livro. Para aqueles que o fizeram, tudo ali faz completo sentido, porém temos o outro lado do público e parece que Akiva Godsman não estava nem um pouco interessado nele. As motivações dos personagens e explicações sobre os Illuminati foram condensadas em poucas linhas e o público não leitor teve simplesmente que aceitar.
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A cronologia dos eventos foi mudada, porém fez pouca diferença analisando a película como um todo. Alguns fatos no filme conseguiram - incrivelmente - superar o livro, tais como [pequeno spoiler] Robert ter recebido de presente os arquivos pelos quais tanto requisitou ao invés dos ferros de marcar, no livro [fim do minúsculo spoiler, tem certeza de que não quer ler?]. Outro que merece destaque foi com certeza o desfecho do camerlengo, que foi tido como herói pelos fiéis, uma clara alusão - e não quero dizer aqui que é verdadeira ou não - de que a Igreja prefere que seus seguidores sejam iludidos pela fé a terem a verdade jogada em suas caras. Falando no diabo na Igreja - ok, não pude resistir - a maioria daquilo que poderia ofendê-la foi retirado do filme por algum motivo desconhecido, talvez o Vaticano até leve seus fiéis para uma sessão pública um dia.
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Enfim, vou parar de comparar o filme ao livro, pois como disse lá em cima, são duas obras completamente diferentes, mas que no final, tem um só propósito: entretenimento. Se é isso que você está procurando, então pode ter certeza de que vai encontrar.
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Nota: 9,3
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P.S.: Será que só eu achei a atuação de Tom Hanks igual ou quase pior que em Código? E o que fizeram naquele cabelo dele? A classificação do filme como drama foi dada pela rede Severiano Ribeiro, eu não tenho nada a ver com isso. Alguém mais reparou que nos pôsteres do filme a palavra Demônios vem em negrito em comparação à palavra Anjos? Porque será? (Se não percebeu, clique no pôster acima, veja em maior tamanho e compare.) Me.do.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

∂єιxє-α єитяαя


Um filme único, romântico, poético, depressivo e comovente. O melhor de tudo? Sobre vampiros!
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DEIXA-A ENTRAR
Diretor: Tomas Alfredson
Distribuidora: Castello Lopes
Ano: 2008
Gênero: Terror/Drama
Oskar tem 12 anos e é um garoto ansioso e frágil, constantemente provocado pelos colegas de classe. Com a chegada de Eli, uma garota séria e pálida da mesma idade, que se muda para a vizinhança com o pai, Oskar ganha uma amiga. Quando a cidade começa a ser assombrada por uma série de assassinatos e desaparecimentos inexplicáveis, o menino, fascinado por histórias horripilantes, não demora a perceber que a amiga é vampira. Os dois acabam se apaixonando e a vampira lhe dá a coragem para lutar contra seus agressores.
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COMENTÁRIOS
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Filmes sobre vampiros sempre atraíram minha atenção. De Vampiros de John Carpenter, passando por Drácula 2000 e Entrevista com o Vampiro até Crepúsculo, posso afirmar com certeza absoluta que nenhum outro filme sobre esse tema é tão tocante, belo e sensível quanto Deixa-a Entrar. Aqueles que estão acostumados com filmes de Hollywood, - totalmente desprovidos de emoção e nos quais há galões de sangue esguichando pelas paredes - não precisam nem continuar a ler este post. Deixa-a Entrar é um filme que precisa, antes de tudo, que o espectador queira entender, gostar e deixar-se levar pela história.
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A fotografia do filme é melancólica e perfeita para a história que se quer contar. Em alguns momentos, a paisagem cheia de neve e quase incolor nos transmite a sensação de pesar que toma conta da vida dos dois protagonistas, enquanto que em outros momentos de paisagens exuberantes, ela parece preencher o vazio que existe entre eles.
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A trilha sonora - quase inexistente - é um dos poucos defeitos do filme. Há sempre aquela sensação de que algo está para acontecer e, quando acontece, a trilha incidental não favorece muito as cenas. Talvez seja um artifício usado para aumentar ainda mais a nossa agonia.
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Sentimentalmente, Deixa-a Entrar é um filme muitíssimo pesado. Ele nos retrata a adolescência de Oskar, um garoto amargurado, reprimido pelo pai e violentado por colegas de escola. Do outro lado, além de adolescente, Eli é uma vampira - já não bastava ser um dos dois? - de muitos e incertos anos condenada a viver eternamente no corpo de uma garotinha. No filme, os dois lutam por aquilo que desejam e descobrem, com o passar do tempo, que precisam cada vez mais um do outro. Oskar deseja se vingar de seus agressores e Eli é a fortaleza que o ensina a ser bravo. Eli precisa de alguém que cuide dela e a ensine novamente a ver a beleza nos sentimentos que ela não pode sentir há muito tempo. É uma relação de dependência inteiramente pura e sensível, pelo menos por parte do garoto. Eli sabe, contudo, que não pode ficar perto de Oskar, pois isso põe em risco sua humanidade e, em um dos momentos mais belos do filme, abdica de seu amor para não condená-lo à vida eterna. Outra cena memorável e repleta de agonia é aquela em que descobrimos o que acontece a um vampiro caso ele entre numa casa sem ser convidado. A cena é forte e perturbadora, a ponto de vermos o desespero nos olhinhos de Oskar, que não sabe o que fazer para consertar a situação. Logo depois, temos um dos momentos mais românticos do filme.
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Falando em romance, está aí um dos três problemas do filme. Deixe-a Entrar é uma história tão carregada de sentimentos que não conseguimos encontrar um gênero certo para o filme, ficando em um meio termo entre o romance, o terror e o drama. Eu fico com o drama, se bem que em algumas partes o filme chega realmente a dar medo. Não aquele medo de sustos, claro, mas aquele medo de um perigo iminente e que nenhum personagem, por melhor que seja, está a salvo. O segundo problema são os cortes rápidos das cenas, em alguns momentos, chegando até a cortar as expectativas que criamos para o momento. Por fim, o que mais me aborreceu foi o excesso de independência dos personagens e o dinheiro ilimitado para fazerem o que derem na telha apesar de serem apenas adolescentes. Tudo bem que o final do filme é lindo, mas nada justifica tanta liberdade para que Oskar faça o que fez. No fim das contas, os pais de Deixa-a Entrar, que deveriam ser um empecilho para o relacionamento entre Eli e Oskar, são nada mais que meros figurantes que apenas entram para justificar tamanha depressão do garoto.
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Apesar desses três erros, o filme não perde sua glória. A mensagem que se tem ao final do filme é que muitos de nós têm vidas vazias até que alguém entre em nosso mundo e o transforma, nos fazendo ouvir, ver e sentir tudo aquilo que não podíamos simplesmente por não termos ninguém por quem valesse a pena viver. No amor, é preciso amar para ser amado. E é essa relação de dependência entre as duas partes que Oskar e Eli tentam nos fazer compreender.
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Nota: 8,7
P.S.: Raíssa, obrigado pelo download! \o/

σ αℓвєяgυє

“Mais do mesmo”. É até desperdício de tempo tentar arranjar alguma palavra para descrever o filme senão esse velho (e verdadeiro) clichê.
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O ALBERGUE
Diretor: Eli Roth
Produtor: Chris Briggs/Eli Roth/Mike Fleiss
Distribuidora: Sony Pictures Releasing/Lions Gate Films
Ano: 2005
Gênero: Terror
Dois mochileiros partem para uma cidade desconhecida do continente Europeu, onde, supostamente, há um albergue que é um verdadeiro nirvana.
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COMENTÁRIOS
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Nos últimos anos, milhares de filmes que deveriam ter o propósito de assustar foram lançados, mas pouquíssimos cumpriram sua missão. O Albergue faz parte de um grupo diferente de filmes de terror: aquele filme que de tão ruim, mas tão ruim, faz você se perguntar quando ele irá acabar para que você possa se ver livre da tortura a qual foi submetido. É realmente um terror assistir Albergue.
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Filme de terror que não tem história geralmente se sustenta em quatro coisas: Sustos bobos, nudez, sexo e sangue. E é justamente isso que O Albergue tem demais. Talvez nem tanto do primeiro fator, tal qual é a incompetência do diretor em produzir a mínima tensão no público. Segundo notas de produção, mais de 150 galões de sangue foram usados durante as filmagens. Além disso, todo o filme foi escrito, produzido, rodado e lançado nos cinemas em apenas 12 meses. Sexo e nudez são os outros dois fatores que nem precisam ser citados aqui, ou precisam?
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A inconsistência do filme é tanta que a partir de certo momento de sua projeção é impossível saber em que lugar a história se passa. Segundo o Google, o local de tanta tortura contra os indefesos americanos seria a Islândia. As atuações são imaturas e a única que condiz é a de Rick Hoffman. A fotografia – único aspecto técnico que se salva – é porca e claustrofóbica, justamente como deve ser em um filme de terror, destaque para a cena final no banheiro. Os efeitos especiais são básicos e não inovam em nada, sendo até risíveis em algumas partes – leia: olho sendo cortado fora. O filme começa somente aos 40 minutos, sendo todo o anterior dispensável. Quando digo isso, não quero dizer que o filme já deveria começar com a matança, mas sim que deveria ao menos preparar o suspense para nos deixar intrigados. Ao final do filme, você tem a certeza de que só os 15 minutos finais foram realmente empolgantes.
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É como fazer um bolo. O Albergue poderia ter sido um bom filme caso outra pessoa houve participado de seu preparo, caso os ingredientes tivessem o mínimo de qualidade e, ao final, não tivesse sido retirado do forno tão cedo. Assistir a esses 95 minutos é como comer um bolo solado: enche, mas não agrada. Qualquer pessoa com uma boa porção de tempo livre, muito sadismo, incoerência e um papel e lápis à mão, consegue escrever um filme assim. Por fim, como malis mala succedunt, uma seqüência para Albergue já foi confirmada. Alguém, por favor, salve o fiasco no qual o gênero terror se tornou.
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Nota: 4

domingo, 12 de abril de 2009

єиѕαισ ѕσвяє α cєgυєιяα


“Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento [...]. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso.” – José Saramargo sobre o livro.

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA
Diretor: Fernando Meirelles
Produtor: Andrea Ribeiro/Niv Fichman/Sonoko Sakai
Distribuidora: Fox Filmes
Ano: 2008
Gênero: Drama

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Adaptação do premiado livro escrito por José Saramago, mostra uma inexplicável epidemia chamada de "cegueira branca", já que as pessoas atingidas apenas passam a ver uma superfície leitosa, a doença surge inicialmente em um homem no trânsito e, pouco a pouco, se espalha pelo país. À medida que os afetados são colocados em quarentena e os serviços oferecidos pelo estado começam a falhar as pessoas passam a lutar por suas necessidades básicas, expondo seus instintos primários. Nesta situação a única pessoa que ainda consegue enxergar é a mulher de um médico (Julianne Moore), que juntamente com um grupo de internos tenta encontrar a humanidade perdida.
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COMENTÁRIOS
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Com a sinopse acima, é bem difícil comentar qualquer coisa sem estragar nenhuma parte do filme. Comecemos, então, pela parte técnica.
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Filmado quase 80% em um manicômio abandonado, Ensaio é um filme que sabe utilizar muito bem os reflexos, planos abertos, filmagens por trás de grades e barras e câmeras jogadas e penduradas em qualquer lugar. Todos esses fatores levam ao espectador um clima de apreensão, desleixo e angústia, conseguindo, assim, provocá-lo ao extremo.
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A fotografia é praticamente incolor, aproximando-se do tom de branco constantemente. A trilha incidental é escassa, mas extremamente coerente com todos os momentos em que está presente. A filmagem, com poucos momentos de exceção da câmera que narra a história, não é considerada muito importante e pega quadros que qualquer outro diretor de cinema abominaria. Rostos e outras partes do corpo dos personagens são cortadas pela metade e em vários momentos a imagem é desfocada propositalmente. O cenário é imundo e sombrio. Ao fim, tudo contribui para angustiar o espectador e, no caso dos mais fracos, até mesmo chocar. As atuações estão excelentes, com exceção de Mark Ruffalo, que parece esperar seu personagem ficar cego para poder interpretá-lo coerentemente. Com certeza, a atuação de Julianne Moore foi a melhor de sua carreira; nos fez rir (em pouquíssimos momentos), vibrar e, principalmente, nos fez sentir sua dor em todas as cenas em que está presente.
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Sobre os personagens. Nem todos são desenvolvidos por completo, mas até o ponto suficiente para que nos importemos com o destino de cada um. Um fato curioso (e cruel) é o de personagem algum ter nome, sendo todos reconhecidos apenas por suas profissões ou ligação sentimental, sugerindo-nos que, no momento em que aqueles indivíduos perderam a visão, perderam também sua identidade.
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O espectador é tratado como um voyeur e representado pela Mulher do Médico. Constantemente, cenas de violência, perturbação e pressão são expostas às nossas vistas com o intuito de nos provocar. Tem-se aí o exemplo da nudez, muito bem utilizado, onde é impossível que nós, mesmo sabendo que tudo aquilo é ficção, observemos a intimidade de um personagem sem sentir o mínimo de constrangimento.
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A visão ali é uma metáfora para tudo aquilo que nos torna humanos e, conseqüentemente, maus: o pré-julgamento, a insensibilidade, a indiferença e a falsidade. É justamente quando os personagens – que, na verdade, representam todos nós – perdem a visão que começam a ver como são (se preferir: como somos) de verdade: sujos, cruéis, egoístas e animalescos, mas que, precisando conviver e aceitar nossa relação de dependência para com os outros, controlamos nossos impulsos e nos abrimos a possibilidades como o amor e tolerância. É no estado (no caso, de cegueira) em que somos todos realmente iguais que podemos nos encontrar inteira e interiormente, para aí, corrigirmo-nos e tornarmo-nos seres políticos. Tudo isso pode ser resumido à frase de Saramargo: “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”
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Cada mínimo segundo do filme é essencial para o entendimento da história. Cada cena é especialmente significativa. Ensaio é o filme que deixa a garganta apertada, que nos faz segurar o choro como uma criança envergonhada, que nos provoca, nos humilha sem medo de nossa reação, nos testa, e que não tem medo de mostrar o quanto nós, humanos, somos cruéis e repulsivos. Ensaio é o filme mais angustiante, deprimente, claustrofóbico e corajoso ao qual já assisti, sem, contudo, esquecer o que o torna tão assustador: o fato de, bem lá no fundo, ser real.
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“Metade de nós é feita de indiferença e a outra metade, ruindade.” – José Saramargo.
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Nota: 10

ѕιмρℓє ρℓαи: σ ѕнσω


Precisei de um tempo para escrever essa resenha. Como fã (quase) incondicional de Simple Plan, se escrevesse qualquer coisa a respeito do show em menos de uma semana, com os ânimos ainda em polvorosa, só saberia elogiar, afinal, foi o melhor presente de aniversário que poderia sonhar em ganhar. Mas, se bem avaliado, o show teve defeitos. Poucos, mas teve.

Eu e meus amigos chegamos praticamente três horas antes do início do show, com medo – eles nem tanto – de não pegarmos a grade. Na fila, pudemos ouvir a passagem de som. Simplesmente agonizante, minha vontade de entrar logo pelo portão subia a cada segundo, enquanto meus amigos aguardavam com uma paciência que eu não fui capaz de entender. Comprei uma bandana de lembrança. A fila aos poucos foi começando a se aproximar do portão. Vez ou outra, ia com minha amiga Enoe dar uma olhada no final da fila. Simplesmente não acreditei na quantidade de gente que estava ali. Poucos minutos antes do portão se abrir e, pela minha (incerta) contagem, não havia nem 3 mil pessoas ali.
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Ao nos aproximarmos do portão, podíamos ver por alguns vãos das paredes alguns fãs indo em direção ao camarim, conhecer o Pierre, Chuck, David, Jeff e Seb. Minha vontade foi de derrubar a parede e começar a gritar pra que me levassem também, mas me contive e tentei desviar o olhar para não passar mais vontade. Chegou nossa vez de entrar! Íamos entrando de pouco em pouco, não só pela lerdeza dos carinhas que conferiam os ingressos, mas pelo número limitado deles. Disseram que a censura do show seria de 16 anos, mas em momento algum vi alguém conferindo a idade dos adolescentes enlouquecidos da fila.
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Meus amigos passaram na minha frente e minha vez chegou! Como comprei meu ingresso pouco depois de anunciarem o show – tudo medo de não ir – ele era diferente: parecia um cheque com uma parte destacável, enquanto que o de meus amigos parecia um cupom fiscal. Novamente me veio o temor de não entrar por meu ingresso ser diferente, mas o carinha destacou e me indicou o caminho tranquilamente, para meu alivio. Agora, NADA podia me tirar dali. Ah, só mais uma etapa para chegar à pista: A revista. Um segurança revistou cada um de nós, sem cara feia, má-vontade, taradice, nem nada. No final das contas, foi até bom que o processo de entrada demorasse um pouco. Pelo menos não teve correria, tumulto, esmagamento, como há em muitos shows por aí.
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Eu falei que não houve correria, certo? Mas não de minha parte. Após ser liberado, caminhei “apressadamente” até a grade, tão sonhada grade. Mesmo minutos antes do show de abertura começar, o local ficou quase deserto, enchendo aos poucos. Se fosse em Brasília daria muito mais gente, pensei. Se fosse em Brasília, provavelmente não poderia ir. Fiquei feliz por ter sido aqui mesmo.
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O show de abertura começou. Nesse exato momento, começaram os defeitos da noite. Uma tal banda chamada Mr. Clown “invadiu” o palco achando que animaria o público. Animou, mas poucos de nós. Sem absolutamente nenhuma presença de palco, o vocalista da “banda” começou a cantar alguma coisa que não consegui identificar. Houve distorções no som, horríveis e torturantes momentos de microfonia, pulos em momentos inoportunos e guitarristas se achando a reencarnação do Jimi Hendrix, além das guitarras com meio metro de corda para fora, o que me fez rir bastante.
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Ainda com o som abafado, o vocalista – que nem vou me dar ao trabalho de pesquisar o nome – começou a falar conosco. Oops, erro meu: conosco não; com o pessoal da área VIP. Com a já citada mínima presença de palco, vocalista, guitarrista e baixista fizeram todo o show somente para a área VIP, ignorando toda a pista. Antes de sair, eles apresentaram um cover de The All-American Rejects, que até me animou um pouquinho, tirando alguns momentos em que ele errou a letra e repetiu duas vezes a mesma frase – deve ter esquecido a seguinte.
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Não sei quem escolheu aquela banda para abrir o show do meu quinteto preferido, mas com certeza não foi a escolha certa. O que Mr. Clown fez aquela noite, foi uma verdadeira palhaçada – Desculpem o trocadilho. Finalmente eles foram embora, dando lugar ao motivo de eu estar ali aquela noite: Simple Plan. Yeah! That’s what I’m talking about!
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A imagem está na minha mente até hoje: Pierre Bouvier, David Desro-alguma-coisa-impronunciável, Sebestian Lefebvre, Jeff Stinco e Chuck Comeau (*.*), exatamente nessa ordem, desceram as escadas do camarim e entraram no palco. David, Seb e Jeff foram atrás das guitarras e baixo enquanto Pierre nos saudou brevemente com um “Oi, Goiânia!”. Com a setlist decorada, esperei os trombones de Generation, mas eles não vieram. Ao invés disso, Chuck começou com a bateria explosivamente. Quem se importa? Eles podiam tudo aquele momento.
Tudo mundo gritando “Ooh, ooh!” no começo de Generation. Aliás, já repararam como esse novo CD é cheio de “Ooh”? Enfim, Pierre cantou, pulou, sorriu, veio até a pista e apontou para alguns de nós (não para mim, mas mais tarde chegaria a minha vez). Jeff se exibiu para nós na guitarra, assim como Seb, que chegou bem pertinho de nós. Seb, muito simpático, até mandou beijinhos para as enlouquecidas fãs. Jeff, pelo menos perto de nós, só tocou sem uma palavra ou gesto, mas ainda gosto dele. David demorou a vir para nosso lado, nas primeiras músicas ficou voltado mais para a área VIP, sorrindo e jogando palhetas. Uma hora ele teria de vir até aqui, pensei.
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Apesar de cantar, gritar, pular feito um louco, consegui deixar algumas lágrimas caírem. A banda que eu escuto desde 2002 e pela qual me apaixonei desde então, estava ali na minha frente. Deve ser um sonho, eu devo estar sonhando, não pode estar sendo tão perfeito, eu pensei. E olha que nem havia começado direito.
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Generation acabou e começaram com Take My Hand. Eu me espremi para ver o Chuck lá no fundo, subi na grade, empurrei uma bêbada do meu lado até conseguir vê-lo. É a música em que ele é mais exigido como baterista. Cara, eu vi o Chuck (E se alguém falar que ele é o boneco assassino eu mato)! Em que momento da minha vida, imaginei estar tão perto assim dele? Ele estava ali, assim como eu. Meu maior ídolo, depois de Amy Lee.
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Deixei o Chuck de lado e voltei minha atenção para o palco. David sentou num baú posicionado de frente para a pista e começou a tocar o baixo ali, de pernas cruzadas. É inegável: Ele tem estilo. Após alguns momentos, Pierre se aproximou. Muito, mas muito próximo da beirada do palco. Ele pegou nas mãos de alguns (condizendo com Take My Hand) e eu estendi a minha, mesmo sabendo que era impossível, completamente EMOcionado. Ele estendeu a mão e apontou para minha amiga Jordana, louca, alucinada do meu lado e, ao olhar para mim, me viu com algumas lágrimas escorrendo. Falem o que quiserem, mas, sim: Eu estava chorando. Sapoksapoksa’ Ele me viu e fez uma cara impagável, algo aproximado do típico ^^ de MSN.
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Ele nos deixou e voltou para o meio do palco. Entrou Shut Up e eu cantei a música a gritos, é a minha música de revolta. Saiu Shut Up e entrou Jump, eu pulei feito louco, sem deixar de cantar em nenhum momento. Veio o segundo problema da noite: Os seguranças do show perceberam que nós estávamos empurrando a grade para frente, tamanha a nossa empolgação. Eles se juntaram e começaram a empurrar a grande para trás violentamente, machucando alguns de nós. Após isso, decidiram montar guarda na nossa frente. Um deles, muito tarado e ridículo por sinal, resolveu segurar a grade numa região próxima a uma parte bem, digamos, inoportuna de uma amiga minha. Nós tentamos falar com ele, mas ele simplesmente ignorou. Não teve problema, eu defendi ela, colocando meu braço entre ela e a mão do “segurança”.
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Começou When I’m Gone e os mais fãs choraram, não entendi o porquê, nunca fui muito fã dessa música, é a mais pop do álbum. Contudo, Pierre transformou aquela música quase ridícula em alguma coisa contagiante e eu, que achei que não gostava da música, passei a cantar junto. Era óbvio que em When I’m “Gooooone-ooone-oooone” ele apontaria o microfone para o público e pediria para nós cantarmos juntos. Não precisou pedir duas vezes.
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Eu estava esperando Addicted ansiosamente e ela veio em seguida, não sei por que, mas não teve toda a intensidade que eu gostaria que tivesse. Contudo, não deixei de cantar e pude perceber que a maior parte de quem estava cantando essa música vinha da pista, enquanto alguns da área VIP simplesmente sorriam, provavelmente a primeira vez escutando a música.
Começou The End e minha amiga Ana Clara me cutucou, é a música que ela mais gosta. Foi boa, principalmente pelo fato de o David ter vindo até a pista e cumprimentado alguns de nós, eu inclusive! Ele me viu e sorriu para mim e, novamente, a Jordana foi beneficiada com um apontamento de dedo e olhada, eu acho.
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Me Against The World, minha outra música de revolta, minha música tema, resumo da minha vida. “Eles amam me ver para baixo, acham que sabem de tudo: Sou um pesadelo, um desastre, é o que tudo mundo diz. Sou uma causa perdida, não sou um herói, mas vou fazer do meu próprio jeito.” Caramba. Não me contive. E muita gente do meu lado também não.
Your Love Is A Lie começou. Outra pop, que nunca dei muita atenção, contudo boa interpretação de Pierre e boa presença de palco de Jeff, Seb e David. Foi uma das músicas que mais teve participação da galera, foi legal. Aproveitei para ver o Chuck, lá atrás, essa música também é legal para ele tocar.
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David veio até nós e perguntou se era hora de dizer adeus, trocadilho para a próxima música. Eu gritei desesperadamente “No! No! No!”, mas alguns idiotas da VIP não entenderam e simplesmente começaram a sorrir e gritar “Yes!”. Que vontade de matar alguns ali... Time To Say Goodbye não estava na setlist, contudo, Pierre percebeu que nós não entendemos a brincadeira de David e resolveu cantar Time To Say Goodbye. Com uma dancinha muito esquisita – mas engraçada – no refrão, além de dar um tapa na bunda do David, Pierre animou geral.
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Em seguida veio a melosa Save You - cujo vídeo você confere acima -, música que Pierre compôs para o irmão, que estava com câncer. Eu me despedacei, simplesmente a música mais linda da banda. Foi a única que não consegui cantar, engolia lágrimas toda hora. Estendi a mão e me deixei levar pela melodia. Pra lá do meio da música, me recuperei, mas Pierre se aproximou de novo e o delírio foi geral. “Eu não vou desistir até que chegue o fim, se te levar toda a vida, eu quero que saiba que se você cair, tropeçar, eu te levantarei. Se você perder a fé em você mesmo, eu te darei forças para se recompor. Me diga que você não vai desistir, pois eu vou estar esperando caso você caia; você sabe: eu vou estar ali para você.” Não tem palavras que possam descrever o que foi isso: todo mundo cantando, levantando lenços, muitos chorando, Pierre tentando animar os que choravam... A música pode ter sido a melhor do show, mas Pierre não a cantou no mesmo tom do CD, obviamente por medo de desafinar, é a música que mais exige dele como vocalista, no final das contas, fez um bom trabalho.
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Tivemos uma rápida música sobre Goiânia que eles “improvisaram” ao tomar caipirinha. O Chuck não tomou, coitado... Eles estavam fazendo essa música para todas as cidades, então não me deixei enganar, contudo, na hora em que Pierre deixou escapar um “Aqui é melhor que o Rio” (em inglês, claro.) animei. Em seguida veio Promise, pouquíssima conhecida, mas que eu sabia, claro. E cantei até perder a voz. Tivemos covers de Katy Perry (e olha que a versão do Simple Plan é melhor que a original), Rihanna e Justin Timberlake, voltei a cantar neste último.
Começou Welcome To My Life, a musiquinha dos pôsers. E a galera delirou geral, eu morrendo de raiva. Não deles, mas por alguns ali terem ido para escutarem somente essa música e depois falarem que são fãs. Esperei até o segundo refrão para poder cantar, minha voz voltou. Até que fui uma boa música, sim. Voltamos às raízes com ela.
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I’d Do Anything – do tempo que o Pierre era magro – foi simplesmente o meu sonho, mas assim como Addicted, não teve o impacto que merecia na platéia. Eu nem me importei e cantei mesmo assim. Feliz da vida, minha música de amor mais feliz. “Eu faria qualquer coisa só para te segurar em meus braços, tentar te fazer sorrir, por que, por alguma razão, eu não consigo te colocar no passado.”
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No Love, que também não estava na setlist, foi tocada. A música mais triste e depressiva do novo álbum mexeu com a galera, principalmente por ninguém suspeitar que ela estaria ali. Foi tudo. Começou Untitled e eu nem sabia se estava mais vivo. Foi a coisa mais inexplicável que eu já presenciei e, se não fosse o bastante, em seguida veio Crazy. Ambas acústicas, Pierre segurou muito bem sem os outros integrantes. Veio a animada I’m Just A Kid e eu senti que ela ficou muitíssimo mal encaixada ali no meio das músicas mais comoventes. Para reforçar ainda mais a minha teoria, a perfeita Perfect veio depois, destroçando I’m Just A Kid.
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Perfect foi um show à parte. Caramba. Acredito que todo mundo ali chorou. Era o fim. Que adolescente nunca escutou essa música e quis escrever a letra pros seus pais? Que adolescente nunca escutou essa música e chorou? Que adolescente nunca quis gritar pra todo o mundo ouvir “Eu sinto muito, não posso ser perfeito!”? Pierre segurou a música no violão completamente sozinho até a bridge após o segundo refrão, depois a banda entrou arrebentando tudo. Foi a coisa mais linda que qualquer pessoa pode imaginar: A luz azul, Pierre parado, cantando de olhos fechados, todo mundo, sem UMA exceção, cantando junto e chorando.
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E acabou. Eu sabia que tinha chegado ao fim, mas me recusava a sair dali. Eles distribuíram algumas palhetas e o Chuck jogou quatro baquetas para o povo. Eu estava longe, droga! Cada um deles se despediu um por um. Pierre, David, Seb e Jeff. Chuck foi o último, saiu da bateria e juntou as mãos em Namastê, abaixando a cabeça e sorrindo. Cara, ele ‘tava ali. Chuck, o fodão. Eu comecei a gritar "Chuck! Chuck! Chuck!" com tudo o que minha garganta permitia até que ele percebeu que algum fã enlouquecido gritava por ele e se virou para minha direção, mas não me viu, ele estava do outro lado do palco. Pelo menos ele escutou. Depois, estendeu a mão em adeus e se foi.
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Foi inesquecível. Estava tudo ali: amigos, música, banda e um amor em comum, amor por uma banda que – pelo menos eu – acompanho há 7 anos. Foram 23 músicas, incluindo os covers, que mexeram com cada um de nós de um jeito diferente. Foram quase duas horas de show que nos fizeram gritar, chorar, cantar, sorrir e sentir que tudo aquilo havia valido a pena. Tudo aquilo havia sido Simple Plan.

No começo do post, disse que o show tinha tido seus defeitos. Citei a quantidade mínima de pessoas que compareceram, o péssimo show de abertura e a violência com que os “seguranças” empurravam a grade contra a pista. O show não lotou, então, para que pelo menos o quinteto tivesse a impressão de um salão lotado, deveriam ter tirado a grade da pista, o que fazem com freqüência em outros shows. Contudo, alguém não pensou nisso e nos fez passar vergonha diante de um buraco enorme entre a área VIP (que não tinha lotado nem um 1/5 de sua capacidade) e o camarote. Após o show, os seguranças tentavam esvaziar o local o mais rápido possível, como se nós representássemos algum tipo de risco para o clube. Alguns foram muito mal educados e inclusive usaram a força para convencerem os mais resistentes. Desnecessário. Tudo muito desnecessário.
E como posso, apesar de isso tudo, dizer que o show havia sido perfeito? Simples: Todos os defeitos ocorreram por parte da má divulgação do evento e dos outros aspectos técnicos. Nós, fãs, não estávamos ali para ver a tecnicidade do show, mas sim para curtir Simple Plan. Ao(s) promotor(es), valeu a iniciativa de trazer a banda, mas, da próxima vez, fica a dica para que tenham uma melhor coordenação e divulgação. O quinteto merecia.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

нσмєм-αяαинα ιιι


Único. Essa palavra pode descrever todo o filme. Completamente diferente dos outros dois, este soube aproveitar elementos que deram certo e descartar alguns que não foram tão bons, o que - mesmo assim - não conseguiu evitar algumas inconsistências na história. É um filme único, mas que sofre de transtorno bipolar.
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HOMEM-ARANHA 3
Diretor: Sam Raimi
Produtor: Columbia Pictures/Marvel Enterprises
Distribuidora: Sony Pictures Entertainment
Ano: 2007
Gênero: Aventura
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Peter Parker conseguiu encontrar um meio-termo entre seus deveres como o Homem-Aranha e seu relacionamento com Mary Jane. Porém o sucesso como herói e a bajulação dos fãs, entre eles Gwen Stacy, faz com que Peter se torne auto-confiante demais e passe a negligenciar as pessoas que se importam com ele. Porém a situação muda quando ele precisa enfrentar Flint Marko, que possui ligações com a morte do seu tio Ben. Tendo que lidar com o sentimento de vingança, Peter passa a usar um estranho uniforme negro, que se adapta ao seu corpo.
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COMENTÁRIOS
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É difícil falar sobre Homem-Aranha já que desde que eu era pequeno, ele sempre foi meu herói favorito. Nesse filme, muitas coisas mudam, inclusive a visão do diretor sobre o público. A platéia é tratada com mais respeito, o tema sentimental é mais bem desenvolvido (não tanto quanto poderia), a história é mais madura e, sim, forte. É aí que está o problema. Tio Raimi não sabe quando é hora de deixar o tom infantil de lado para agradar aos adultos, ou quando deve esquecer um pouquinho dos adultos e voltar sua atenção aos pequenos.
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A maior inconsistência do filme se dá na questão sentimental. É inegável que a história está mais trágica e pesada, mas mesmo assim consegue provocar boas risadas. O filme provoca confusão - e até aborrecimento em alguns, como no meu caso - ao não deixar claro qual o gênero que querem trabalhar nele. Um momento excelente de drama é repentinamente seguido por uma sequência de comédia excêntrica e vice-versa. Esse "transtorno bipolar" é o que não permite ao diretor aprofundar mais nos sentimentos dos personagens, o que dá no público a sensação de que os personagens não têm uma personalidade definida. Contanto, isso pode ter sido apenas uma consequência de outro problema: O excesso de histórias que quiseram contar em pouco mais de duas horas.
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Toda a série do Homem-Aranha poderia ter rendido uns oito (bons) filmes de duas horas. O que parece ter acontecido neste terceiro foi que quiseram resumir toda a história da série em um único filme caso não pudesse haver um Homem-Aranha 4. O relacionamento entre Peter e Mary Jane parece ser o centro da trama da terceira película, mas a partir do momento em que descobrimos a verdade sobre o assassinato do Tio Ben, o tema fica em segundo plano, porém, consegue ser bem trabalhado. Junto com a descoberta do "verdadeiro" assassino de Ben, a vingança começa a se apoderar de Peter e ele parte em uma busca amargurada ao encontro do bandido. Esse seria outro tema que poderia ter rendido muito mais se não fosse pela necessidade da presença dos vilões. Já não bastasse o Homem-Areia, Harry e Edward chegam para completar o "trio do mal", tornando todo o resto da história um simples pano de fundo. Ao final, todas as histórias começadas são encerradas de maneira grandiosa ou, no mínimo, satisfatória, mas com a típica sensação de que estávamos correndo contra o tempo. O que não é necessariamente um fator negativo, já que isso nos impulsiona a querer chegar ao fim.
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As atuações estão ótimas: Tobey já conseguiu reprimir a cara de peixe morto boa parte das duas horas e quarenta minutos, Kirsten Dunst está mais sensível para o papel e James Franco está simplesmente impecável na nova personalidade de um Harry sem memória e mais brilhante ainda após recuperar-se da amnésia. Rosemary Harris continua interpretando perfeitamente a adorável Tia May, que toca cada um de nós com suas falas mais profundas. J. K. Simmons continua dando um show como J. Jonah Jameson e garante os momentos mais divertidos do filme. Topher Grace também sabe fazer o incrível Venom com um toque um pouquinho mais humano e amável que o dos quadrinhos.
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Os efeitos melhoraram absurdamente entre o último filme e este. A trilha sonora não mudou muito, o que continua deixando a música contagiante como sempre e até decorável para os fãs mais alucinados - eu aqui.
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Na minha última observação, só queria constatar que Homem-Aranha é o super-herói mais humano entre todos os que já foram criados e talvez por isso seja tão fácil se deixar viajar por seu maravilhoso mundo. Se pudesse dar um conselho às famílias em geral, lhes diria para assistirem a Homem-Aranha e extraírem para suas vidas nem que seja um pouquinho da(s) (várias) mensagem(ns) que ele passa. É um filme que faz rir e chorar, odiar e amar, mas, acima de tudo, perceber que algumas coisas na vida são difíceis de reconquistar após serem perdidas.
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Nota: 9,7

domingo, 8 de fevereiro de 2009

cαтινєιяσ


O filme pode parecer muito promissor no começo, mas ao decorrer do longa, percebemos que será apenas mais um "filme de sábado à noite", o que, contudo, não tira toda diversão que ele pode lhe proporcionar.

CATIVEIRO
Diretor: Roland Joffé
Produtor: Foresight
Distribuidora: Europa Filmes
Ano: 2007
Gênero: Terror

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Ficar presa em uma cela sem saber onde está nem porque foi presa. É assim que acorda Jennifer, a bela e conhecida top model. Assustada com a situação, ela tenta descobrir o que está acontecendo. O clima é apavorante. Aos poucos se revela que Jennifer não está sozinha. Na sala ao lado um rapaz também luta desesperado para ver a luz do sol. Os dois somam forças, mas em vão. O local é um Bunker de concreto repleto de armadilhas mortais. Cada erro pode custar uma vida. Um final eletrizante e surpreeendente está por vir.
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COMENTÁRIOS
O filme tem a pretensão de superar a franquia Jogos Mortais; muita publicidade foi feita e a campanha acabou gerando polêmica nos Estados Unidos - como qualquer besteira por lá gera. É um filme com roteiro bem simples: 1) Público descobre a protagonista 2) Ela é seqüestrada 3) Mantida em cativeiro e sob tortura 4) Fim.
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Não é um filme complexo nem difícil de entender. A trama em si - analisada como um todo - não surpreende como a sinopse diz, às vezes ainda é bem previsível, mas garante ótimos sustos durante todo o longa. Para aquelas pessoas que já são acostumadas com filmes de suspense/terror com um twist no final, o fim de Cativeiro não vai surpreender, contudo, para aqueles que assistem ao filme de cabeça aberta, sem esperar nada demais dele, podem acabar tendo uma surpresa.
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Não há muito diálogo no longa, apenas alguns gritos aqui e resmungos alí, o que aumenta ainda mais a tensão. As atuações, logicamente pela facilidade do roteiro, estão boas, porém o filme não consegue se livrar de um estereótipo crítico que todo filme de investigação tem: A satirização dos policiais. O filme não é tão violento quanto a publicidade sugeria, mas é bem desgostoso. Algumas cenas - como a vitamina de orgãos humanos - são de apertar o estômago e fazer parar de comer a pipoca com medo de que se possa passar mal. Os protetores dos animais certamente não vão gostar de uma parte do filme, que para quem tem o estômago forte, não passa de uma cena tensa.
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Por fim, a (escasa) trilha sonora está razoável, mas poderia ter sido mais bem aproveitada. Se houvesse um pouco mais de empenho pela parte dos produtores - como houve para a produção da excelente música tema -, ótimas composições poderiam ter integrado o filme.
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No mais, é um clássico filme que tenta causar a sensação de claustrofobia no telespectador e criar uma certa repulsa, às vezes dá certo, outras não - porquê Hollywood ainda insiste em usar os já manjados ratinhos brancos para causar repulsa? O filme tinha potencial para ser diferente de todos os outros sobre o mesmo tema, mas os roteiristas preferiram não arriscar e seguir a fórmula pronta. Se é melhor que Jogos Mortais ou não, isso é o telespectador quem decide.
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Como já explicado, não é um filme que merece o Oscar ou que vai entrar para o hall dos seus favoritos, mas que pode ser uma boa opção para um fim de semana chuvoso.
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Nota: 8