quinta-feira, 27 de maio de 2010

σ мιѕтéяισ ∂αѕ ∂υαѕ ιямãѕ

Histórias de madrastas que tentam infernizar suas enteadas têm origem nos contos infantis e perpetuam até hoje. O Mistério das Duas Irmãs baseia-se nesse problema familiar e poderia ser apenas mais suspense como todos os outros sobre o tema. Contudo, o filme consegue inovar e tornar-se provavelmente um dos mais surpreendentes que você verá.

O MISTÉRIO DAS DUAS IRMÃS
Direção: Charles e Thomas Guard
Distribuidora: Paramount Pictures
Gênero: Suspense


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Com os minutos iniciais de narração torturante, somos apresentados a Anna, a doce e bonita filha mais nova de Stephen que acaba de receber alta de uma clínica psiquiátrica, por não ter sabido lidar direito com a morte da mãe. A volta para casa é marcada pelo carinho do pai, mas também pela presença de uma madrasta jovem e com forte presença, Rachel.

Logo no começo, somos levados a perceber que a garota não é muito empolgada com a nova namorada do pai, mas que ela abre mão das diferenças para ter uma boa relação em casa. Porém, incentivada pela irmã Alex, Anna resolve investigar o passado misterioso de Rachel e percebe que ela realmente guarda alguns segredos. A caçula se aprofunda cada vez mais na história sem se dar conta de que corre um risco mortal e que a irmã, incapaz de ajudá-la, e o pai, cego de amor, não estarão ali para ela.

Surpreendentemente envolvente, o filme peca apenas em afirmar com tanta rapidez ao espectador que a madrasta tem sim uma aura maligna, mas isto serve para tornar o ritmo rápido e não cansar o público. Há as típicas cenas em que quando alguém está prestes a contar ou descobrir alguma coisa algo impede a revelação. Embora perigosa, a escolha dos diretores – os irmãos Guard – de deixar quase todas as respostas para o final, é a melhor.

O que dá gosto de, literalmente, ver nesse filme é a perfeita escolha de câmera. Sempre os melhores lugares, posições e ângulos são usados na filmagem e a fotografia – no início, clara para representar a felicidade de Anna – acaba tornando-se escura e fria, essencial para o clima de tensão. A trilha sonora é condizente com os momentos, sendo melhor utilizada nos pequenos clímaces e (poucos) sustos distribuídos pela projeção.

Por ser a refilmagem de um filme japonês, – Hollywood realmente anda sem criatividade – os irmãos Guard tiveram um árduo trabalho para levar às telas essa nova versão, muito mais bem-produzida que a original. Contudo, eles não podem levar crédito pelo desfecho genial e chocante d'O Mistério das Duas Irmãs. Nesse aspecto, ponto para os coreanos.

Nota: 9,5

σ ѕєqüєѕтяσ ∂σ мєтяô 123


Ninguém sabe como será o próprio dia ao acordar. Talvez tenha uma idéia do que fazer, para onde ir, que horário seguir, mas o destino e o acaso, apesar de parecerem antagônicos, trabalham juntos para tornar pelo menos um dia das nossas vidas surpreendente. É com essa possibilidade que este filme brinca tão bem.

O SEQÜESTRO DO METRÔ 123
Diretor: Tony Scott
Distribuidora: Sony Pictures
Gênero: Ação/Drama



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Ryder, um maníaco em busca de dinheiro, resolve seqüestrar um metrô em Nova Iorque e acaba fazendo pouco mais de uma dúzia de pessoas reféns. Ele contata o controlador de máquinas conhecido como Walter e logo começam a negociar a vida dos passageiros. Boa parte do filme acontece nos trilhos do metrô parado e no escritório de controle das máquinas, onde os dois – por desejo que Ryder, que só aceita negociar com Walter – passam muito tempo conversando e conhecendo melhor um ao outro numa estranha relação.

Os laços entre os dois acabam sendo reforçados quando Ryder descobre que Walter também é encrencado com a polícia. Percebe-se que a negociação a partir desse ponto é recheada de falas que remetem ao destino/acaso, ao heroísmo e à religião, como se um tivesse que confessar ao outro suas próprias falhas para conseguirem algum tipo de perdão masoquista. Ainda sobre laços, a relação entre os reféns poderia ter sido muito mais bem aprofundada, causando simpatia no público que, durante quase duas horas, nem sabe quem são eles.

Tecnicamente, o filme abusa – e não duas ou três vezes, mas muitas dúzias – do avanço de cenas com frames congelados, o que irrita quando se sabe que algumas delas ficariam bem melhores se rodadas normalmente, como o vôo do helicóptero, por exemplo. Porém, a decisão em mostrar quanto tempo falta para o fim do prazo estabelecido por Ryder é um grande acerto, já que aumenta ainda mais a ansiedade de quem assiste. O filme volta a pecar, contudo, no excesso de palavrões. É fucking no meio de nome, de comida, de dinheiro e até de declaração de amor. Tem para todas as ocasiões e todos eles soam artificiais demais.

Falando nos atores, a decadência de John Travolta não começou por agora, mas parece ter chegado ao ápice com esse filme, onde interpreta o seqüestrador do Pelham 123. Sua atuação é boa como em todos os outros filmes que fez, mas ele parece ultimamente não se importar com os tipos de papéis que aceita. De qualquer forma, consegue convencer como um maníaco que apenas queria dinheiro, perdão e um herói. Denzel, por outro lado, continua com uma excelente atuação e o papel de quase todos os seus filmes: o bom moço que acaba salvando o dia, o que, em comparação com Travolta, é um melhor lugar para se estar.

O Seqüestro do Metrô 123 já começa tirando o fôlego e tem potencial para ir ficando ainda melhor. É o tipo de filme que faz o público roer as unhas loucamente, embora tenha certeza de que vai acabar com o típico final certinho, tão adorado pelos estadunidenses. Apesar de ter uma ótima ação, ele segue a fórmula do “bandido bom é bandido...” e do “simples trabalhador no meio de uma guerra que não é sua”, o que pode ser frustrante para pessoas que querem um filme memorável. Pode até ser, mas até 10 minutos antes do final.

Nota: 7,5

domingo, 7 de março de 2010

мαяℓєу & єυ

Uma ótima opção de entretenimento para rir, chorar e se deliciar nas confusões de um cachorro que o filme faz parecer tão único, mas que, olhando de perto, poderia muito bem ser o seu.
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MARLEY & EU
Diretor: David Frankel
Produtores: Gil Netter e Karen Rosenfelt
Distribuidora: Fox 2000 Pictures
Gênero: Comédia/Drama
John (Owen Wilson) e Jennifer Grogan (Jennifer Aniston) casaram-se recentemente e decidiram começar nova vida em West Palm Beach, na Flórida. Indeciso sobre sua capacidade em ser pai, John aceita a sugestão de seu melhor amigo e adota Marley, um labrador de 5 kg que logo se transforma em um grande cachorro de 45 kg, fazendo da casa deles um caos.
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COMENTÁRIOS
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Eu ganhei o livro Marley & Eu no Natal de 2008 e comecei a lê-lo aos poucos, mas, de repente, me vi completamente preso à história que havia em suas páginas. Era de uma pureza, de uma bondade e de uma paixão tão grande que às vezes me pegava perguntando se aquilo realmente poderia ter acontecido. O filme, por incrível que pareça, tem exatamente o mesmo tom íntimo que as páginas do romance trazem e é a adaptação cinematográfica mais bem feita e fiel que um livro poderia exigir.
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O filme, apesar de ter uma história tão simples, é atraente em todos os aspectos, do crítico ao técnico. Começa com um casal que tem a vida toda programada pela agenda de Jenny (a ótima Jennifer Aniston, de Friends.), mas, inesperadamente, seu marido John (o também adorável Owen Wilson) lhe presenteia com um cachorro de liquidação, que passam a chamar de Marley. A família se inicia nesse momento.
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Marley causa uma série de infortúnios ao mesmo tempo em que é o grande motivo da felicidade do casal, que se prepara para ter o primeiro filho. Ele está presente em todos os momentos e é visível como ele é muito mais que apenas um cachorro.
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O filme não peca na cronometragem e tem o tempo exato que poderia ter; são poucos os que se estendem por duas horas sem cansar o público. As atuações vindas de todos os atores são ótimas, os planos de filmagem – quase sempre abertos para mostrar belas paisagens – estão muitíssimo bem trabalhados, a fotografia é iluminada como a história pede e a trilha sonora não poderia ser melhor – em alguns momentos o silêncio também ajuda a fazer o clima (por exemplo, na volta do casal após a primeira visita frustrante ao médico).
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Apesar de não ter do que se queixar, o público de Marley & Eu não vai se lembrar do filme pelas atuações, planos ou o que quer que seja, mas sim pela mensagem de amor contida nele; uma família que começou apenas com dois, mas que foi se tornando maior, sempre alegrada pela presença de um cachorro que muitos de nós temos em casa e não sabemos. Ao final, é impossível não se emocionar com o questionamento de John, que percebe que mesmo Marley sendo um cachorro, aprendeu com ele muito mais do que com humanos que passaram por sua vida. A quantas pessoas você daria seu coração e receberia de volta todo o amor? Quantas pessoas você conhece que são capazes de te fazer sentir verdadeiramente amado, único e especial?
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Nota: 10
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Post dedicado à minha amiga Letícia por razões que ela sabe muito bem, mas, acima de tudo, por ter sido uma espécie de Marley - no bom sentido - para mim.

sábado, 30 de janeiro de 2010

α óяfã


Quem espera encontrar um filme de terror em A Órfã pode acabar um pouco desapontado, mas se souber mudar o ponto de vista, vai perceber que é muito melhor que isso; é um excelente filme de suspense dramático.
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A ÓRFÃ
Diretor: Jaume Collet-Serra
Produtores: Leonardo DiCaprio e Susan Downey
Distribuidora: Warner Bros. Pictures
Gênero: Terror
John e Kate passam por uma tragédia familiar. A perda de um de seus filhos faz com que, embora ainda tenham outros dois, resolvam procurar ajuda de um orfanato a fim de adotar mais uma criança. Mesmo depois de alertados das dificuldades de se adotar crianças já crescidas, a aparente maturidade e carisma de Esther os conquista prontamente. A menina, no entanto, mostra-se maléfica, levando toda a família à loucura.
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COMENTÁRIOS
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O grande problema desse filme é que ele foi vendido (pelos trailers e spots de TV) como um grande terror, o que o diretor Jaume Collet-Serra deveria ter impedido seriamente, pois sabia muito bem que seu filme não era o que estavam dizendo. A Órfã simplesmente conta o drama familiar de um casal com dois filhos que esperava o terceiro e, depois de perdê-lo, resolve adotar uma garota já crescida, Esther. Logo eles percebem que ela é um pouquinho estranha; pensa, fala, se veste como adulta, chegando até a causar arrepios neles.

Ao longo da projeção, o telespectador percebe que aquilo que seria um filme de terror não passa de um suspense, mas de ótimo nível. Esther deixa de ser a criança educada e gentil e passa a revelar um lado sombrio, cada vez mais disposta a ter os pais só para si. A fotografia não abandona o tom escuro, apenas para aumentar a apreensão e transmitir ao público o clima que envolve os personagens, e a trilha sonora está muito bem trabalhada, assim como as atuações, principalmente pela parte da russa Isabelle Fuhrman.

O filme nada mais é que uma investigação da mente perturbada de uma garotinha recém-adotada, mas, por mais que se tente ficar ao lado dela – com a justificativa de que ela está confusa – fica difícil ao ver que realmente há algo de errado com Esther. O jogo pela família começa e não há como tirar a garota da casa. Ela – que maquia um segredo responsável pela grande surpresa do filme – tem as rédeas da situação e muito mais astúcia do que aparenta.
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Nota: 8,5